Confira a entrevista com o ex-presidente José Eduardo de Mesquita Pimenta, realizada no encontro da oposição na última terça-feira.
Qual a sua opinião sobre a atual administração do São Paulo FC?
O São Paulo é vítima da atual situação do futebol brasileiro. Ele não foge à regra. Mas, é óbvio que a administração poderia ser melhor. Eu acho que ela tem várias falhas. O Marcelo, apesar dos bons propósitos dele ao assumir o clube, não conseguiu unir o clube e acho que isso é indispensável para uma boa administração. Ele deve estar enfrentando as mesmas dificuldades que os seus antecessores enfrentaram com essa segmentação que existe no clube.
Você poderia citar essa segmentação como um fato determinante para a dificuldade de se administrar o clube hoje?
Certamente. Com certeza esse é um fator a mais, sendo um grande complicador. O presidente precisa ter sustentação interna, sobretudo em um clube como o São Paulo que sempre foi um paradigma, um exemplo para os demais e sempre teve um papel de liderança no futebol brasileiro. Para que ele possa exercer essa liderança, precisa ter sustentação na base que é a sustentação dos seus companheiros de clube que ele não tem. Hoje, o clube está muito dividido.
Qual a sua opinião sobre a venda do Kaká?
Sob determinado ponto de vista, não havia saída porque o jogador tinha essa vontade manifestada há muito tempo e ele fez até o sacrifício de renunciar a sua participação dos seus 15% para viabilizar essa transação. De outro lado, o São Paulo não foi aquinhoado como deveria ter sido. Certamente, hoje o Kaká vale muito mais do que quando foi negociado com o Milan. Todavia, era circunstância daquele momento. Infelizmente, não foi o melhor para o São Paulo, mas o São Paulo ainda assim, se beneficiou. Um jogador criado e formado em casa por um custo insignificante diante dos valores recebidos na transação.
Você seria candidato da oposição na eleição do ano que vem? Você tem preferência por algum nome para a disputa?
Eu não sou candidato. Essa é uma decisão antiga e não desejo voltar à administração do São Paulo. Acho que já dei a minha contribuição. Dei o melhor de mim. Certamente, me sacrifiquei, sacrifiquei a minha família e não me arrependo disso. Eu carrego comigo as grandes conquistas do São Paulo na minha administração. Eu sou de oposição e vou votar com a oposição. Aquele que for escolhido será o meu candidato. Eu espero que seja o melhor, que congregue o maior número de aficionados e que possa representar o pensamento da oposição e este candidato terá certamente o meu voto.
Você acha que faltou uma homenagem do São Paulo a todos os participantes dos títulos mundiais nesse ano em que completa 10 anos do Bi-mundial? Foi realizada apenas uma homenagem ao Telê Santana.
Sim. Foi algo absolutamente infeliz. Essa discriminação feita pela atual administração do São Paulo com relação aos dirigentes do passado e em especial os das grandes conquistas é inaceitável. Mesmo porque, se o São Paulo não cultivar a memória dos seus dirigentes, não existiria o São Paulo e nem existiria um grande time. O Telê jamais teria sido contratado se não existisse uma direção. É óbvio que essa direção propiciou ao Telê, a comissão técnica e a todos aqueles jogadores as condições ideais para que se tornassem vencedores. De modo que é uma discriminação odiosa. O São Paulo com isso perde. Tenho certeza que essa situação se voltará com os mesmos dirigentes de hoje. Ainda não conquistaram nada, mas se forem conquistadores vão ser vítimas desse mesmo processo e amanhã não serão lembrados. E a impressão que dá é que o São Paulo é um clube que não tem direção. É um clube que tem uma direção espontânea ou natural, ou seja, não tem uma direção que o administre. O que não é uma verdade. Vamos louvar os dirigentes do passado que são sempre lembrados e devem ser lembrados. Esse pessoal da administração do São Paulo está contribuindo exatamente para aquele preconceito que existe com relação aos dirigentes de que todo dirigente é mau ou é chamado de ‘cartola’ no mau sentido. E nem todos são. Tem muito dirigentes que são abnegados e deram a vida pelo São Paulo, jamais se beneficiaram do São Paulo e o São Paulo hoje é o que é, graças a sua direção. E não é um dirigente ou uma administração, mas uma sucessão de administrações que fizeram o São Paulo grande como é hoje.
Qual a sua opinião sobre o Time do Tricolor hoje? Com ele poderemos vencer a Libertadores 2004?
Se permanecer com está, eu acho que não tem chance. Embora ocorra uma decadência no futebol Sul-americano nesse momento. Há um enfraquecimento dos times devido a dificuldades econômicas e da falta de paridade que existe hoje entre o euro ou dólar e a nossa moeda. Mas se o São Paulo continuar como estão, não vai chegar a lugar nenhum.
O que a oposição vê de errado no São Paulo hoje e que mudaria imediatamente?
Eu gosto de pensar o São Paulo grande. Eu acho que o São Paulo deve ser grande sempre. Eu vejo o problema do técnico. Tenho uma grande admiração pelo Rojas que prestou e presta grandes serviços ao São Paulo. Mas, eu tenho isso até como exemplo da minha administração. O São Paulo precisa de um treinador que tenha marca e grife. Que tenha padrão. Técnico que não tem padrão, não serve para o São Paulo e acho que o São Paulo também tem que ser constituído de grandes jogadores. O São Paulo sem alguns grandes jogadores, nunca fará uma grande equipe. Haja vista que o São Paulo sempre foi o maior fornecedor de jogadores para a seleção brasileira. Então, o São Paulo é uma equipe de grife e de padrão. Querendo ou não, temos que arrumar um esquema de patrocinadores, de grandes empresas que se envolvam com o futebol porque o São Paulo tem credibilidade. E o São Paulo pode resgatar essa credibilidade que hoje está faltando no futebol brasileiro. Se isso ocorrer, nós vamos atrair novamente o interesse de grandes empresas. Eu acho isso possível. Então, o São Paulo tem que pensar grande. Tem que fazer um planejamento nesse sentido. Eu acho que atraindo os investidores, nós voltaremos ao topo do futebol brasileiro.
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