O técnico interino Vagner Mancini se manifestou após o empate com o São Caetano, nesta quarta-feira, sobre a polêmica com o goleiro Jean no São Paulo. O treinador disse a explicação dada pelo jogador em uma publicação em uma rede social não é verdadeira e que ele não entendeu o ocorrido na reunião do elenco na última segunda-feira. – Eu gostaria de falar que o que eu li na nota que o Jean soltou não é verdade. Em determinado momento, lá atrás, quando o Jean não quis ir ao jogo contra o Red Bull, sentei com ele por quase meia hora, bati um papo com o atleta. Eu conheço desde ele que ele tinha 14 anos, através de uma pelada lá em Salvador, sou amigo do pai dele, jamais agiria de uma forma que não seria mostrar o caminho certo. Naquele momento não era a atitude correta dele, ele estava reivindicando uma titularidade, eu expliquei isso para ele. Teve uma cobrança em cima do grupo, e somente ele se rebelou. Eu disse para ele que ele estava fazendo a coisa errada. Ali não estava o técnico Vagner Mancini, estava o pai Vagner Mancini. Aqui estou dando a minha versão do que aconteceu. O que eu li na nota não é a realidade dos fatos – explicou Mancini.
A polêmica começou depois que Jean não gostou de ser cobrado pelo treinador em uma reunião do elenco, na última segunda-feira, no CT da Barra Funda. Incomodado, o goleiro deixou a conversa e depois não treinou com o time. Ele recebeu um multa e foi afastado pela diretoria, passando a trabalhar separado do grupo, em horários diferentes.
No Instagram, nesta quarta-feira, Jean disse que Mancini, desde sua chegada, em janeiro, não o trata "da mesma forma que todo o restante do grupo de jogadores". O goleiro relata ter perdido a paciência ao ver Mancini o apontando como "um dos responsáveis" pela derrota para o Palmeiras, sem nem ter jogado.
– Não foi o técnico Vagner Mancini que botou o Jean no banco. Desde que ele chegou, ele já passou por alguns técnicos, passou entre titularidade e reserva. Só para deixar tudo claro, não tenho nada contra o atleta, muito pelo contrário, já falei sobre minha amizade com o pai. Ele interpretou tudo errado. Se acontecesse amanhã, faria da mesma forma. Quem veste a camisa do São Paulo precisa ter respeito por aquilo que acontece dentro de campo – afirmou Mancini.
O técnico foi questionado na entrevista sobre um possível pedido de desculpas de Jean, algo que ainda não aconteceu. Além disso, não descarta aproveitá-lo novamente no elenco.
– Tenho filhos da idade do Jean. A partir do momento que ele entender que a desculpa é necessária... Claro que ninguém está aqui para punir ninguém. Somos uma equipe de futebol. Todos erramos e acertamos ao longo do tempo.
– Ele é um atleta do São Paulo. Está afastado porque foi uma decisão dele, ele pediu para ficar separado do grupo. A partir do momento em que o atleta voltar para nós e dizer que quer jogar, vamos sentar e analisar.
Jean afirma que a insatisfação do treinador se deu porque, logo após o jogo, o goleiro foi imediatamente "tomar banho" no vestiário, antes da oração conjunta, como é praxe no elenco. Jean sustenta que não foi o único e que, assim que foram chamados, todos os jogadores saíram do chuveiro para o "fechamento", como se diz no futebol.
O GloboEsporte.com apurou nos bastidores que a preocupação da diretoria do São Paulo com o comportamento de Jean vem desde o ano passado. Contratado do Bahia por R$ 6 milhões em janeiro de 2018 (o valor chegaria a R$ 10 milhões se Jean atingisse um certo número de jogos em seus primeiros 18 meses no clube, o que já se sabe que não acontecerá), ele alfinetava internamente o trabalho do antigo titular, Sidão – e passou a fazer o mesmo este ano, com Tiago Volpi.
A leitura, inclusive de Mancini, é de que "Jean sempre se preocupou mais consigo mesmo do que com o grupo" – o que já chegou ao técnico Cuca. No momento atual do São Paulo – único time grande ainda não garantido na fase de mata-mata do Paulistão e eliminado de forma precoce na Libertadores –, Mancini e os dirigentes esperavam comprometimento total dos jogadores com o elenco, e não com causas próprias. Daí a insatisfação com as cobranças de Jean para que se tornasse titular, em substituição a Tiago Volpi.
Ano passado, Jean fez chegar aos ouvidos da diretoria que estava "insatisfeito" com a reserva e que queria ser emprestado para poder jogar mais. Não por conta da pressão, mas por má fase de Sidão, Jean ganhou a posição e uma sequência de jogos, interrompida por conta de uma expulsão contra o Vitória – em episódio visto pela diretoria como mais uma prova da imaturidade de Jean.