Há uma antiga lenda que dizia que o Rei Midas, transformava tudo o que tocava em ouro. Bem, acredite você ou não, isso vai da crença e da ceticidade de cada um... Porém, no início dos anos 90, houve um treinador no São Paulo que conseguia fatos inusitados, e porque não dizer também, milagrosos??! Em 1990, Telê Santana (que na época ainda não era mestre), chegou ao Morumbi, para a disputa do Campeonato Brasileiro. Tinha uma equipe muito razoável, que acabara de disputar um Campeonato Paulista de forma medonha, mediocre. Pois bem, com essa mesma equipe, conseguiu levar nosso amado Tricolor até a final, onde fomos vice contra os corinthianos. Muitas pessoas erroneamente confundem os cargos de técnico com o de treinador. Ora, são duas funções diferentes. O treinador é aquele que se preocupa com o atleta, na sua forma individual, e avalia seu aspecto físico e técnico. Observa com minúcias sua performance e trata de aprimorar os fundamentos, onde o atleta tiver mais deficiência. O treinador sabe muito bem que, antes de se formar o bom jogador, deve formar primeiro, o bom atleta. Bem, e o técnico, o que faz?! Este é um estudioso do futebol, vive com uma prancheta na mão (hoje substituida por um laptop ou notebook qualquer), analisando táticas e esquemas para surpreender os seus adversários. Criterioso, ele analisa também os esquemas táticos dos adversários e sabe muito bem utilizar as peças, ou seja, os jogadores que tem. Um grande problema hoje em dia é que, os técnicos atualmente estão tão preocupados com esquemas táticos, que acabam “abandonando” seus atletas e deixando de lado seus defeitos e falhas. Mas, fica a pergunta no ar: “É possível conciliar as duas funções, ou seja, ser técnico e treinador ao mesmo tempo?” Sim, é possível, porém pouquíssimos profissionais têm desempenhado esse duplo papel no São Paulo. O último deles, foi Telê. O velhinho era meio rabugento, mau humorado, desconfiado e parecia nunca estar satisfeito. Quando o atleta pecava em um fundamento, ah, coitado!! Ficava horas, após os treinos, treinando INDIVIDUALMENTE seus fundamentos, até chegar a um nível satisfatório. Exemplos de “vítimas” dos castigos de Telê?! Vários, entre eles, Cafu, que na época era apenas um jovem promissor, tinha muitas qualidades, porém era péssimo nos cruzamentos... Fazia “lição de casa” no CT da Barra Funda. Outro exemplo? O jovem Macedo, revelação do Rio Branco, tinha muita habilidade, mas seus chutes saíam com certa imperfeição. E até mesmo, o Rei Raí, já sofreu com os castigos depois dos treinos. Ficou quase duas horas, embaixo de chuva, ele e Telê, treinando arremantes a gol. “Vamos, Raí. Não é assim que faz... Eu sei que sabe fazer melhor do que isso....Telê era perfeccionista. Quer o maior exemplo disso? Quem não se lembra do gigantesco e medonho Ronaldão?! Ronaldão era um truculento zagueiro, tecnicamente HORRÍVEL e muito lerdo. Vivia no banco de reservas. Telê Santana sentiu potencial no Ronaldão. Este passou por maus bocados antes, e aceitou com humildade as aulas do Prof. Telê. Aprendeu a antecipar as jogadas, para evitar de levar dribles humilhantes, ou ter de apelar para faltas violentas. Aprendeu também a utilizar o corpo, jogando duro, mas sempre com lealdade. Jogava sério também, não brincava com a bola nos pés.Pelo contrário, sempre procurava a despachar o mais rápido possível, para evitar problemas. Formou ao lado de Antonio Carlos, uma das maiores duplas de zagueiros da história do São Paulo. Que ironia do destino, logo ele, a quem a torcida e a Imprensa o batizara de “Ronaldão”, não pelo seu enorme futebol, mas em alusão ao seu tamanho e sua qualidade técnica. O diferencial dos dois perfis se encontra justamente aí: hoje, apesar dos recursos avançados da medicina, dos profissionais especializados, e dos recursos tecnológicos, não basta apenas ser técnico. Tem que ser também treinador. Tem que saber avaliar o potencial individual e coletivo de cada jogador, e saber qual a função mais adequada para o seu tipo de jogo... Transformar um zagueiro em atacante não é nenhum ato de insanidade, desde que aquele jogador faça jus no ataque...
AH, que saudades do Mestre Telê....
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