As finanças do São Paulo em 2023: a conta tricolor não fechou
02/07 - 12h38
Quando o São Paulo venceu a Copa do Brasil, no ano passado, uma notícia obrigatória em toda a imprensa foi sobre a premiação conquistada — R$ 88 milhões, tendo sido a maior parte garantida só com a vitória na final. Só depois de alguns meses é que se pergunta: essa conta fecha? Do ponto de vista esportivo, é óbvio que sim. É para isto que existe clube de futebol; vencer competições. Financeiramente, o cálculo é um tanto desapontador. Entra mais dinheiro por um lado, também sai mais por outro, ao dividir a premiação com o elenco e em custos adicionais.
Esse é o exercício que o São Paulo permite fazer por meio de suas demonstrações contábeis. É verdade que sua receita aumentou em 2023, com méritos. É também verdade que o seu custo disparou, bem como a sua dívida. Dificuldades financeiras ainda são evidentes no Morumbis.
Para facilitar o entendimento da situação ao torcedor, o ge se baseia no estudo produzido pelo economista Cesar Grafietti, da consultoria Convocados. O especialista também gravou 13 episódios do podcast Dinheiro em Jogo, para analisar individualmente as contas dos clubes.
Rating As notas foram atribuídas por Grafietti, da consultoria Convocados, com base nas demonstrações contábeis referentes aos últimos 12 anos. O conceito é usado no mercado de capitais para classificar empresas: a partir da combinação de uma série de métricas, gera-se uma nota.
No caso do rating para o futebol, o especialista considera elementos como receitas, custos, EBITDA, investimentos e valores a pagar para bancos, entidades, agentes, fornecedores, parcelamentos etc. Cada um tem um peso pré-determinado para determinar o status de cada clube.
Em 2023, o faturamento do São Paulo aumentou e chegou a R$ 669 milhões. Premiações estão contidas em direitos de transmissão. A final da Copa do Brasil também puxa as receitas com bilheterias, sócios-torcedores e estádio. A baixa na venda de atletas atrapalhou.
Os gastos com pessoal — que incluem salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem — dispararam entre 2022 e 2023, enquanto despesas administrativas do clube também aumentaram. Na soma de ambos, o São Paulo teve um custo de R$ 576 milhões durante a temporada.
Dívidas e alavancagem Em 2023, o endividamento do São Paulo aumentou para R$ 856 milhões. O valor se divide entre dívidas bancárias (R$ 226 milhões), impostos e acordos (R$ 258 milhões) e dívidas operacionais (R$ 376 milhões), que estão ligadas a compromissos presentes, do próprio ano tricolor.
O cálculo de Grafietti para a dívida inclui tudo o que deverá ser desembolsado, menos o que está disponível em caixa. Provisões para contingências (para ações judiciais em andamento) podem fazer com que os valores devidos fiquem maiores, em casos de clubes contestados.
Por outro lado, é possível que o clube tenha valores a receber por direitos de jogadores que vendeu, ou de patrocinadores e parceiros comerciais, o que eventualmente torna a dívida mais fácil de lidar no curto prazo.
Geração de caixa e investimentos EBITDA: R$ 93 milhões (positivo) Investimento em base: R$ 34 milhões Investimento em contratações: R$ 77 milhões Investimento em infraestrutura: R$ 11 milhões EBITDA é a diferença entre receitas e custos, antes de descontar juros, depreciações e amortizações. Menos complicada do que a sigla faz parecer, ele indica a saúde financeira do negócio. E, no caso do São Paulo, o número positivo mostra que o ponto de partida é favorável.
A situação só fica desconfortável porque a geração de caixa é insuficiente para dar conta de tudo: investimentos e pagamentos de dívidas, além dos tais juros, depreciações e amortizações. Os juros, aliás, consumiram R$ 77,5 milhões em 2023 — quantia que poderia ter sido usada no futebol.