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“Deus no Céu e o São Paulo na Terra”

Por * CONVIDADOS* (rodrigo@tricolormania.com.br)


Cada clube tem um símbolo pelo qual é conhecido, às vezes é um bicho, às vezes é um dístico. Todos têm um dístico, todos têm um símbolo. Há clubes que se destacam tanto pelo símbolo quanto pelo dístico.

O São Paulo é representado por um santo, o São Paulo é a encarnação futebolística do apóstolo Paulo e é também chamado de “O clube da Fé”. O apóstolo Paulo é o nosso símbolo, “Clube da Fé” é o nosso dístico tradicional. Acho que tanto nosso símbolo quanto nosso dístico explicam tudo quanto eu passo a relatar agora.

Quando o São Paulo foi refundado, em 16/12/35, já contei essa epopéia, éramos só onze camisas, uma bandeira e um grande sonho. Não tínhamos campo, não tínhamos sede, não tínhamos torcida, não tínhamos jogadores.
Alguns admiradores do Clube Atlético Paulistano não se conformavam com a idéia de o clube parar de jogar futebol e então resolveram criar o São Paulo FC.

Dentre os pioneiros que sonharam o grande sonho de recolocar um time com o perfil da cidade em campo estava alguém muito especial, Francisco Bastos. Francisco Bastos nascera em 11/09/1892, era um paulistano da gema.
Logo, o menino Francisco foi associado pelos pais ao Clube Atlético Paulistano, Francisco freqüentava o Paulistano desde a mais tenra idade, Francisco vibrava com o time de futebol do Paulistano, um time multi-campeão que tinha no ataque o implacável goleador Friedenreich, o Pelé dos tempos antigos. Francisco ia a todos os jogos do Paulistano.

Quando Francisco cresceu, a fé religiosa e cristã tomou conta de seu coração, o jovem resolveu abraçar o celibato clerical.

Então Francisco foi para o exterior e fez-se padre. Quando o padre voltou ao Brasil, o Paulistano estava desistindo do futebol. Francisco não se conformava com a atitude de abandono do Paulistano, ele tinha um coração religioso e ao mesmo tempo esportista, Francisco então resolveu acompanhar os revoltosos sonhadores que fundaram o São Paulo FC.

Na ata original de fundação do São Paulo FC está estampada a assinatura do Cônego Francisco Bastos, décimo-primeiro subscritor daquela lista de são-paulinos históricos, que iriam, a longo prazo, mudar o cenário esportivo nacional.
Ao mesmo tempo em que ajudava a fundar o clube, Francisco Bastos foi ser o pároco da igreja da Consolação, no centro da cidade de São Paulo.

Francisco usava batina preta, naquele tempo padre tinha que usar batina preta; Francisco foi à reunião histórica de 16/12/35 vestindo a batina que lhe era imposta pelo clero.

Tudo era proibido aos padres. Tudo? Tudo não. Quase tudo.Ninguém, nem o papa, impedia um padre de ser são-paulino.
Francisco Bastos estava apaixonado pela idéia de fazer o São Paulo FC manter-se vivo. Então, se tornou uma figura legendária da nossa história. Monsenhor Bastos, como era conhecido, logo cativou os paroquianos da Consolação. Pregava com sapiência, orava com dedicação, era caridoso, ajudava os fiéis, todas as missas rezadas por Monsenhor Bastos eram concorridas e não havia quem não admirasse aquele padre humilde, de voz suave, que exortava a bondade. Mas hora de pregar era hora de pregar, hora de orar era hora de orar e hora de acompanhar o São Paulo era hora de acompanhar o São Paulo. E nessa hora Monsenhor Bastos se tornava um leão.
Conta-se que os hábitos dos domingos religiosos da capital mudaram enquanto Monsenhor Bastos esteve à frente de sua paróquia.

A missa das 18:00 hs começava britânicamente no horário, salvo nos domingos em que jogasse o São Paulo no Pacaembu. Nesses domingos o padre ia ao jogo, sem o padre não havia jogo e as partidas terminavam às 18:00hs. Portanto a missa só se iniciava às 19:00hs.
Monsenhor Bastos ia aos jogos com a mesma entrega espiritual que dedicava às suas homilias. Era fanático. O padre se sentava nas arquibancadas, uma vez identificado os adversários faziam troça.

Se o São Paulo perdesse gritavam que “era culpa do urubu”, se ganhasse queriam sua expulsão da igreja, levara Deus a interferir no resultado.
Francisco Bastos foi personagem de histórias verdadeiramente inesquecíveis. Uma vez ele estava sentado na arquibancada. Eram tempos românticos, as torcidas se misturavam, não havia divisão de torcidas. Monsenhor Bastos podia ser visto naquela ocasião acomodado ao lado de três ou quatro diretores do clube, era um “Majestoso” e os corintianos ilhavam os raros são-paulinos presentes ao estádio. O Corinthians fez 1, fez 2 a 0. Todos olhavam para o padre e gritavam: urubu, urubu!

Veio o segundo tempo. O São Paulo faz o primeiro, faz o segundo, vira para 3x2 antologicamente. Monsenhor Bastos apenas fita os adversários e sorri. Então o cercam e passam a gritar que homem de saia não sabia vibrar. Nesse momento, descendo ferozmente três degraus, um sujeito atarracado encara os atrevidos e parte-lhes a cara gerando uma confusão só contida a muito custo e horas depois pela polícia. Depois do entrevero soube-se quem era o herói que defendera o religioso: era Kid Jofre, um lutador de boxe recém chegado ao país e pai de uma criança de nome Éder, que no futuro seria o nosso imortal “galinho de ouro”, campeão mundial de boxe.

Monsenhor Bastos era um são-paulino inigualável. Para ele, torcer para o São Paulo era um ato semelhante ao ato de orar. Seu espírito se enlevava ao ver o clube das três cores em campo. Monsenhor Bastos era um devoto do São Paulo FC.

O grande Benedito Ruy Barbosa, esse gênio de nossa dramaturgia, conta que uma vez assistiu a um jogo ao lado de nosso personagem iluminado.

Conta Ruy que Monsenhor Bastos assistia à partida impassível sob a ótica dos demais, mas cochichando desesperado aos seus ouvidos.

O padre estava revoltado com uma derrota, o time jogava muito mal, um certo atleta estava parado, morto em campo. Ruy, sangue quente, passou a xingar o time, pedia raça, aos brados, mas educadamente, afinal estava ao lado do padre... Então Monsenhor Bastos sussurrou em seus ouvidos:-“xingue o fulano, vamos, xingue, mas xingue com palavrões, você pode, eu não posso! E Ruy desfiou um rosário de palavrões vociferando contra o atacante desinteressado, com a aprovação silenciosa de Monsenhor Bastos.
O padre, depois dos berros e dos impropérios, sorrateiramente disse-lhe, à boca bem pequena:- “é assim que se faz, meu filho”!

Monsenhor Francisco Bastos era fanático pelo tricolor.
O São Paulo não tinha onde treinar, no início não tínhamos campo, já o disse. O São Paulo não tinha onde concentrar seus jogadores, às vésperas dos jogos era preciso localizar, na noite boêmia, os atletas que jogariam no dia seguinte. Não era fácil.

Numa certa reunião da diretoria, num porão da Praça Carlos Gomes, no centro da cidade, onde só havia três ou quatro cadeiras nas quais os diretores se revezavam para sentar, colocou-se em pauta o delicado assunto.

Era preciso que se destacasse alguém para localizar os craques nas noites anteriores aos jogos, alguém que os aconselhasse a irem dormir; jogar insone estava se tornando um hábito para os nossos meninos. Monsenhor Bastos tomou a palavra e sugeriu algo que assombrou os presentes: a partir da semana seguinte levaria os atletas para se concentrarem na igreja. Sim, a igreja da Consolação iria transformar-se em concentração do São Paulo!
E assim foi feito.

Monsenhor Bastos então substituiu o pai de cada qual e de todos os jogadores do São Paulo. Decretou horário para o recolhimento, à certa hora todos deveriam se apresentar na igreja, ali ele os alojava, na torre, no terceiro andar.
O bairro da Consolação era o bairro da boêmia, até hoje o é. Como impedir os jogadores de sair para fruir os prazeres da juventude?

Monsenhor Bastos passava a tranca nos aposentos, divididos em tabique de madeira, pular do terceiro andar quem poderia?

No pátio da igreja, local reservado para os raros embates das inocentes partidas de basquete dos congregados marianos, os craques passaram a se exercitar, era lá que eles batiam bola, Monsenhor Bastos trouxera para aquele sítio sagrado da religião a sagrada chama de sua paixão mundana, o futebol.

Assim foi a vida desse homem de fé que se apaixonou perdidamente pelo clube da fé. Nenhum jogador do São Paulo batizou um filho ou se casou durante o período em que Monsenhor Bastos fez parte da diretoria sem que ele próprio celebrasse o batismo ou o casamento.

Muitos craques viram seus filhos receberem na pia batismal uma recomendação para que se tornassem tricolores, quase todos os jogadores do São Paulo se casaram ouvindo as palavras doces do padre são-paulino.

Dino Sani, “Il Signore Sani”, um dos monstros sagrados de nossa façanha histórica, conta que foi Monsenhor Bastos quem celebrou seu casamento. Era uma sexta-feira. O São Paulo só jogaria no domingo e contra um time pequeno pelo campeonato paulista.

Monsenhor Bastos, ao benzer as alianças dos noivos foi ao ouvido de Dino e decretou baixinho: - “só se consuma o casamento se o senhor se comprometer, em nome de Deus, a jogar domingo”! Dino respondeu:- “jogarei, em nome de Deus”! E assim o casamento se consumou. E o São Paulo venceu o jogo, com um gol do recém-casado.

Muito há a falar sobre a trajetória desse incrível personagem, desconhecido por muitos, ignorado talvez pela maioria dos são-paulinos. Não vou me alongar, meus iguais. Só um compêndio de vários tomos descreveria a dedicação desse homem pelas nossas cores.

Enquanto viveu, Monsenhor Bastos integrou a diretoria do São Paulo, tendo sido, inclusive, presidente do Conselho Deliberativo do clube.

Um dia um repórter abelhudo e torcedor assumido de um clube rival quis colocar publicamente o afável Monsenhor Bastos em situação delicada perante seus fiéis. Perguntou-lhe se ele amava mais o São Paulo do que a Deus.
Monsenhor Bastos, serenamente, respondeu-lhe que amava Deus e o São Paulo; para ele era Deus no céu e o São Paulo na terra.

Os anjos disseram amém.

Descanse em paz, Monsenhor Bastos.

Antonio Carlos Sandoval Catta-Preta é advogado e são-paulino.
(catta_preta on twitter)


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