Escrevo antes da primeira partida contra o River Plate, quando enfrentamos mais uma semifinal de Taça Libertadores de América.
Que palavras escolher para dar a dimensão de nossa ansiedade, de nossa angústia, às vésperas de decidir a vaga para a final do torneio que mais prezamos, contra um adversário que tem tradição e que sempre levou vantagem contra o nosso time?
Que palavras escolher para equilibrar-se entre a crítica feroz a dirigentes de capacidade e talento duvidosos, sempre passíveis de contestação, e a inextiguível paixão que nos faz ter com a camisa tricolor a relação que alguns têm apenas com suas religiões, que outros têm apenas com a mulher, o marido, os amigos e parentes mais próximos, que a grande maioria dos mortais – incluindo a grande maioria dos torcedores de futebol – é incapaz de compreender?
Que palavras escolher para traduzir o nosso sentimento pelo time que está em nossas mentes e nossos corações, que nos faz lembrar de momentos extraordinários, de uma felicidade infinita, que tivemos na infância, na adolescência, na idade adulta, na terceira idade? Ano passado, após o gol de Cicinho que decretou o fim do tabu em Campeonatos Brasileiros contra o Palmeiras, lembro de ter disparado a correr entre as cadeiras da cativa e, no meu caminho, apareceu um senhor japonês, de seus 65 anos, com os olhos marejados. Com praticamente o dobro da minha idade, a metade do meu tamanho e do meu peso, abraçou-me, levantou-me, meio chorando, meio sorrindo, só conseguia dizer: gooool, gooool... Há palavras suficientemente belas, racionais ou inspiradas para definir de onde veio a força, a juventude, a vibração deste senhor?
Que palavras escolher para explicar por que muitos de nós, ao lembrar das campanhas de 1992 e 1993, rever recortes de jornais e jogos gravados em velhas fitas de vídeo, nos arrepiamos, estremecemos, choramos?
Que palavras escolher para justificar por que em 92, aos 22 anos, virei-me de costas para o campo após o pênalti perdido por Ronaldão, para não mais ficar de frente, até cair de joelhos, às lágrimas, quando escutei o Morumbi explodir na maior festa de sua história, com a defesa de Zetti, no pênalti batido por Gamboa?
Que palavras escolher para que outros entendam por que o hino do clube e a sua bandeira falam muito mais alto, para todos nós, que os símbolos da Nação?
Falaria em amor, mas seria pouco.
Acrescentaria a sensação de vitória individual e coletiva que nos invade quando nosso time vence, sensação que renova o espírito, compensa problemas, nos faz esquecer tristezas. Seria superficial.
Descreveria a fuga que o futebol representa para muitos (eu, incluso, reconheço sem constrangimento), por fazer evaporarem os complexos, por reverter a falta de auto-estima, por transformar em euforia (sem a ajuda de medicamentos) a depressão, por levar corpo e mente a estados irreais de excitação, sem nenhuma necessidade de substâncias de qualquer natureza. Ainda seria um depoimento inconsistente.
Lembraria, então, dos vínculos afetivos que o time representa em minha vida: meu pai, minha mãe e meu sobrinho (que já estão torcendo lá de cima), de minha irmã, minha sobrinha, que esperam minha ligação ao final de cada jogo. De minha mulher, que não torce por time nenhum, mas torce por mim e pela felicidade que uma simples vitória – que se dirá um título – representam para o homem que ela distraidamente escolheu para se casar. Ainda não seria uma explicação conclusiva.
A verdade é que me sinto limitado. Por mais que pense, recorra aos livros de meus escritores preferidos, dos poetas que mais admiro, simplesmente sinto-me bloqueado.
Em meio a milhões de palavras, restam apenas quatro, que não explicam, não justificam, não estabelecem razão para tudo o que sentimos. Quatro palavras curtas, que só fazem sentido juntas.
Quatro palavras que, não importa o que já tenha aontecido no passado ou que aconteça daqui para a frente, sempre, terão a força que nenhum argumento tem: SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE.
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