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Silêncio...

Por DARIO CAMPOS (redacao@mauroivan.com.br)


Daqui a algumas horas, inicia-se a primeira partida da decisão da Libertadores 2005. A quinta na história do São Paulo. A quarta que vivencio pessoalmente.
A primeira na história de muitos são paulinos jovens.

Como enfrentar a ansiedade, a angústia que atormenta a cabeça, parece dificultar a respiração? Como evitar que a memória nos traga de volta as cenas de 1994, a dor da derrota em casa, um Morumbi pronto para a festa, e silencioso...

Todos nós temos, lá dentro, este temor. O medo de que, no fim, tudo seja silêncio.

Pois eu digo: assim como o som da massa tricolor a entoar o hino e os cânticos que tanto vêm marcando nossos jogos, o silêncio é nosso aliado.

Estava lá naquele dia 17 de junho de 1992 quando um Morumbi lotado asistia São Paulo x Newell’s Old Boys. Milhares e milhares à espera do título inédito, e se podia ouvir o vôo de uma mosca, a queda de um lenço. Tensão, minutos passando, as maiores oportunidades desperdiçadas, as chances começando a rarear, o adversário contra-atacando, quase fazendo. Sai Muller, um dos maiores ídolos do time, vaiado, e entra Macedo.

Em sua primeira participação, corta da direita para o centro da área e o zagueiro Gamboa o puxa pela camisa. Centésimos de segundo de silêncio, antes da explosão de alívio, mais até que de alegria. Pênalti. Raí toma distância e os gritos por seu nome cessam quando ele inicia a caminhada em direção à bola. Silêncio... E então 105.000 vozes fazem o Morumbi vir abaixo.

O estádio se levanta, grita, empurra, mas o segundo gol não vem.
Vêm os pênaltis. Raí acerta o primeiro, eles erram. Ivan acerta o segundo, eles idem. Ronaldão erra... De novo, o silêncio, que é a forma mais contida da energia mais pura do ser humano: o medo. É no silêncio que está o pranto que ainda não emite sons, a oração que só conseguimos pensar. O silêncio, após a cobrança de Ronaldo, foi tão pesado, tão intenso, que parece ter criado uma redoma de esperança, de fé em volta do gol de Zetti. E nem bem lamentávamos a perda de Ronaldo, eles erraram novamente, a bola desviou na “redoma” e passou longe.
E veio Cafu... GOL. E então veio Gamboa. Houve gritos, Zetti ovacionado, mas, quando o zagueiro se postou para bater, silêncio. Eu, ajoelhado e de costas na arquibancada, desde o erro de Ronaldão, esperava a reação dos que continuavam com os olhos fixos no campo. Lembro-me bem de ouvir o som que o vento fazia, um assovio contínuo. De repente, o baque surdo de um chute... e um outro som, fraco, que não consegui definir. Era a bola tocada pelas mãos de Zetti. E o Morumbi estremeceu, milhares pularam, gritaram, se abraçaram. O êxtase tomou conta de tudo, a loucura espalhou-se, uma massa branca passou a tomar o gramado, enquanto eu, chorando copiosamente, sendo abraçado, levantado e consolado pelos amigos e os desconhecidos, ainda reunia forças para me colocar de pé. Só então não houve mais silêncio. Apenas o hino que aprendi a cantar praticamente ao mesmo tempo em que aprendi a falar.

Naquele mesmo ano, no dia 13 de dezembro, em Tóquio, São Paulo e Barcelona empatavam em 1 a 1, quando o árbitro argentino Juan Carlos Loustau apitou uma falta em Palhinha aos 33 minutos do segundo tempo. Os gritos de incentivo cessaram, no Japão e aqui, enquanto Raí se postava, mãos na cintura. Raí dá um passo, um toque, Cafu pisa sobre a bola, Raí atira... O exato segundo em que a bola entra no ângulo direito de Zubizarreta é um momento de silêncio, de perplexidade. Nós, em seis na sala de minha casa e, tenho certeza, cada são paulino em Tóquio, aqui ou em qualquer parte do mundo, hesitou por alguns centésimos. GOL. E então, os atos tresloucados, as lágrimas, os gritos, os abraços, os copos sendo espatifados.
Na volta à realidade, novamente o silêncio, à espera do apito final, intercalado por alguns urros de “marca”, “tira”, “ataca”. Aos 47 minutos do segundo tempo, Loustau pede a bola. Em minha sala, todos se olham por um segundo. E então iniciam-se os berros, eu corro sem direção, em círculos pela sala, grito, dou cabeçadas na parede, atiro-me ao chão e o esmurro, gritando “É CAMPEÃO, CARALHO!!!! É CAMPEÃO DO MUNDO!!!” Alexandre Paixão (era, de fato seu sobrenome), um grande tricolor, fica paralisado no meio da sala, chorando como uma criança e só diz bem baixinho, olhos arregalados, como a não acreditar: “Campeão do mundo... campeão do mundo... campeão do mundo...”
Meu amigo Marcelo, o Barba, envolve-se com a bandeira, senta-se em um pufe e chora. João Marcos chora e grita. Sérgio Lessa chora e nos abraça. Não há olhos sem lágrimas em minha casa. Não houve, naqueles dois dias de 1992, olhos sem lágrimas no estádio ou na casa de qualquer são paulino.

Antes que esta nova decisão comece, terei uns momentos de silêncio. Vou me concentrar, pensar em meu pai quebrando os pratos para desabafar e comemorar o título do Brasileiro 77, em minha mãe sorrindo de felicidade quando via minha expressão a cada conquista, em meu sobrinho rindo e chorando ao mesmo tempo após a final das duas Libertadores e dos dois Mundiais que conquistamos e me abraçando forte, às lágrimas, após a final do Paulista 98. Vou pensar em minha irmã, e minha sobrinha, no Marcelo, meu amigo, que estará sentado a meu lado na quinta que vem. Em minha mulher, torcendo apenas por saber o que significa pra mim. Desculpem se me repito, mas família e amigos têm uma grande relação com tudo isso.

Façam o mesmo. Reservem-se alguns momentos de silêncio, para lembrar de tudo o que o São Paulo já nos proporcionou e ainda proporcionará. Nos momentos que nos fizeram assim, apaixonados pela camisa de três listras. No porquê de enfrentarmos horas de fila, desorganização, desrespeito, baderna, e ainda assim não arredarmos pé ou mesmo sucumbirmos a comprar ingresso de cambista.

Pensarei no som do vento que ouvi naquele 17 de junho de 1992 no Morumbi, antes de o último pênalti ser batido pelo Newell’s Old Boys. E lembrarei que o silêncio da ansiedade, do medo, da fé, da esperança, transformou-se na mais maravilhosa festa de que já se teve notícia em um estádio brasileiro, abençoada, num cantinho do gramado, pela imagem de Nossa Senhora Aparecida, ali colocada em respeito à devoção de alguns membros da Comissão Técnica, particularmente de um senhor idoso, de cabelos grisalhos, que, sorridente e ao mesmo tempo dominado pela emoção, esquecia-se de seus méritos, para repetir a todo momento, palavras de amor e gratidão à torcida são paulina: um certo Telê Santana.


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